domingo, 16 de agosto de 2009

Eu, a advocacia e as lições de vida.

Depois de sentimentos intensos, com a alma mais aliviada, pretendo questionar, não quero falar de emoções e sim de gratidão e satisfação! Talvez soe um pouco frio, se comparado ao texto anterior. Porém, o intuito deste blog é abrir o livro de minha alma. Minhas experiências, meus pensamentos e até mesmo o dia-a-dia de um jovem advogado e seus conflitos.

Estranhando algumas atitudes minhas, onde eu sempre priorizava a amizade e a ajuda aos que mais necessitavam. Deixando de lado o dinheiro e o prestígio, certa vez, ouvi de meu pai, que jamais enriqueceria.

Não serei hipócrita ao ponto de não reconhecer o valor e a importância do dinheiro. Mas será que eu deveria iniciar minha vida profissional priorizando o dinheiro? Logo o dinheiro?

Por ser um grande apreciador de livros de psicologia, ao ler um dos livros de Augusto Cury, uma frase me chamou bastante atenção:

"A vaidade é o caminho mais curto para o paraíso da satisfação, porém ela é, ao mesmo tempo, o solo onde a burrice melhor se desenvolve"

Meu rosto de menino. Meu sorriso espontâneo. A teimosa mania de não querer ser tratado com formalidades e por não aceitar ser chamado de doutor, me identificando somente como “Rafael, o advogado”, ao invés de Doutor Rafael, por vezes me trouxeram problemas.

Em determinado momento de minha vida, levei uma bronca de uma ex-companheira de trabalho, que dizia que eu deveria me impor e assumir minha postura de advogado perante os meus clientes. Deveria assumir que eu sou um Doutor!

Logo, cheguei a conclusão que, “Doutor”, só lhe serve para engrandecer sua vaidade e criar distinções entre pessoas iguais, solo mais do que próprio para a burrice se desenvolver.

E de que vale um advogado burro? Um homem burro em sua breve história vivenciada por terceiros nesta vida?

A cada petição, a cada recurso, a cada cliente que senta à minha mesa, vejo pessoas aflitas, esperando de mim a resolução de seus problemas.

Na vida, minha única preocupação é com minha consciência, esta sim, é implacável comigo.

Portanto, quem me conhece sabe que sigo o que acho até as últimas conseqüências.

Na minha breve carreira de advogado (04 anos), tive algumas experiências que, na verdade foram verdadeiras lições de vida, tanto para mim, quanto para outras pessoas envolvidas.

Ao iniciar minha vida profissional, de forma solitária, tive uma profunda tristeza, que mais tarde se transformaria na maior alegria presenciada por mim no exercício sagrado da advocacia.

Uma pessoa próxima, que me conhecia, me incumbiu de defendê-la em uma ação trabalhista proposta por sua empregada doméstica. Os valores eram modestos, isto, na visão de um advogado. Nada que preocupasse, pelo menos a mim.

Marquei a primeira consulta, nove horas da manhã. Ela seria a primeira de uma época de recursos escassos. Não tinha escritório próprio e me utilizava de salas emprestadas por amigos caridosos.

Andava pra cima e para baixo com um laptop, uma impressora pequena e algumas folhas de papel. Quem via aquela cena, ria e me chamava de escritório ambulante, itinerante, entre outras brincadeiras. Porém, era o que eu tinha naquele momento.

Cheguei cedo, barba feita, terno alinhado, laptop e impressora com 20 minutos de antecedência.

O tempo passa. Nove horas e nada da cliente chegar, nove e meia e eu já me perguntava se eu deveria estar ali, naquela sala, sozinho olhando fixamente para a mesa. Esperei até dez e meia, quando um aperto no peito, me fazia sentir a pura sensação de incapacidade, frustração.

Foi-me avisado que a cliente não viria por problemas pessoais, sendo remarcado outra data, no mesmo horário. Novamente o mesmo ritual: chegar cedo, barba feita, terno alinhado...
Novamente a mesma dor, a cliente não apareceu!

Questionei-me naquele momento, o porquê de tudo na minha vida ser assim, refleti, cheguei a pensar em desistir.

Motivado pelo calor dos sentimentos, liguei eu mesmo para a cliente. Uma voz do outro lado timidamente se justificava, dizendo que não deixaria o processo comigo pela seguinte razão:
"Rafael, você é muito novo, eu posso perder muito dinheiro, prefiro deixar a causa com um advogado mais experiente".

Em nenhum momento fui indelicado ou grosso. Ao contrário aceitei e ainda pedi desculpas por não corresponder às expectativas dela. Mesmo com o peito aberto e o coração marcado.

O tempo passa, virei à página da tristeza e com isso as lições da vida aparecem.

Um ano após isso, a vida me reservou uma surpresa. A filha desta mesma mulher me procurou. A mãe estava acometida por uma grave doença e necessitava urgentemente dos meus serviços.

Até hoje, não sei quem apostou em mim, se a mãe, arrependida, ou a filha, jovem advogada como eu.

A situação que eu me deparava, era a seguinte: Eu precisava conseguir do governo do estado de São Paulo uma medicação de alto custo, para esta pessoa se manter viva.

Recusar? Jamais! Não me tornei advogado para me acovardar perante o peso do trabalho e muito menos sou homem de guardar mágoas a tal ponto.

Encarei o desafio. Fiz exatamente o que deveria ter feito, assumi o compromisso, fiz a ação com um só pensamento em mente: “’Tenho que fazer isto, como se fosse minha mãe que precisasse!”
E fiz...

Quando a ação ficou pronta, novamente a desconfiança alheia bateu à minha porta para me provar.

Ao passar pelas mãos de outros advogados mais experiêntes, fizeram uma série de mudanças em minha petição.

Aquilo me chocou, me enervou! Desta vez, não haveria chances de minha capacidade ser colocada à prova!

Reclamei em tom alto e ameacei que se não fosse da minha forma, não assinaria nenhuma outra petição! Eu sabia dos riscos, sabia da responsabilidade e estava convicto que meu trabalho estava correto e escrito com o coração.

Em nenhum segundo tive medo da derrota. Assinei minha petição, e esta foi para o Fórum.

Às sete horas da noite do mesmo dia, recebi um telefonema emocionado. A liminar havia sido deferida e posteriormente a sentença foi procedente!

Eu havia conseguido os remédios que aquela mulher tanto precisava para se manter viva e com esperanças. Até os dias de hoje ela continua com a medicação e está viva.

Isto tudo, graças a mim? Não! A Deus, que me inspirou em cada palavra escrita!

E qual foi o pagamento pelo meu serviço? Nada, nem um centavo.

Recusei-me a aceitar qualquer quantia em dinheiro, pois o que havia de ser pago, já havia sido pago. A confiança!

Um ano antes, fui recusado como advogado para defender seus interesses financeiros, pela desconfiança.

Um ano depois fui aceito e contratado para lhe dar o que havia de mais precioso em sua vida, a chance de viver!

Com isso, vão-se as mágoas, as frustrações e te faz sentir-se abençoado e convicto de que estou no caminho certo.

Qual o dinheiro do mundo pagaria isto? Qual o valor de uma vida? Não há!

Portanto, amigos leitores, existem muitas coisas valiosas na vida, e ficar marcado no coração alheio é o maior tesouro que posso ter.

Sou rico no dom que Deus me deu. Cumpro minha missão nesta curta passagem que é a vida, na esperança em que chegar o meu dia de partir, que ninguém se recorde de meus bens, mas sim dos meus atos e escolhas, da verdadeira riqueza que construí nos corações!

2 comentários:

  1. Rafa, por mais incrível q isso possa parecer, vejo mais sentimento nesse texto do q no anterior... Pq aqui, vc conta a sua história, se despe das vaidades e escancara o coração... e esse é vc... metade anjo, metade sentimento... e o mais importante: 100% ética!

    Obrigada por existir, amigo...

    Bj enorme no seu coração!

    Carol.

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  2. Lindo o Texto. Fiquei sem palavras...
    è bom saber que ainda existem pessoas que trabalham por amor, pelo simples prazer de ajudar as pessoas...

    Sabemos que o dinheiro é necessário, mas se ele for o unico objetivo, a vida se torna vazia...

    Parabéns pela pessoa que és...e que continues assim...

    Beijo grande

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